D. Branca

Há muitos anos atrás, no meu primeiro emprego "à séria", conheci a D. Branca. Uma guineense de retinto ébano, com os 45 anos bem encaixados nas ancas e seios fartos, com o mais lindo sorriso e o mais doce abraço que se me atravessaram nos dias. Todos os dias roubava 10 minutos à manhã, para me sentar na copa à conversa com a D. Branca enquanto bebericávamos gigantescas canecas de café fumegante. E assim fiquei a saber que lhe tinham nascido sete filhos de um "madraço que pus a correr de casa para fora. Quem não trabalha não come!", que o mais pequenino de 8 anos já lia como os grandes, e que a mais velha "...o meu orgulho, a minha menina vai ser dôtora!" estudava enfermagem e esticava o orçamento maternal com horas feitas à pressa na pizzaria do bairro. Um dia a D. Branca foi-se embora. E abraçámo-nos, e por entre lágrimas dissemos aquilo que nunca tinha sido dito "Gosto muito de si menina. Gosto muito de si D. Branca". 
E hoje, ao cruzar-me com a vizinha do 4º andar, com a vizinha cor de canela que trabalha a muitos quilómetros e muitas horas do nosso prédio multicolor, com a vizinha que me oferece sempre um sorriso e um bom dia cantado com sotaque de terras de África, tive muitas saudades da D. Branca. E dei por mim a devolver-lhe o sorriso  num aperto de mão: " Já é tempo de nos conhecermos.  Como está,  o meu nome é H., e sou a vizinha do 11º C".

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