Make-up story

Meio-dia. O metro há muito que esvaziara a onda matinal de gente apressada. Entrei e sentei-me. Dois bancos mais à frente uma miúda. Achei eu. Ocupava 3 assentos com dois sacos gigantes que vasculhava freneticamente. De repente vejo-a tirar da amálgama um estojo de maquilhagem. E começa por aplicar a sombra. De longe apercebi-me de uma vasta gama de tons pálidos, e muitos pincéis. Depois o eyeliner. "Não é capaz!", pensei enquanto o metro se sacudia numa curva mais apertada. Enganei-me. Com gestos precisos de quem repete o ritual todos os dias, traçou um risco negro preciso que certamente lhe favoreceria o olhar. Depois o rímel, ou a máscara, como se diz agora, é mais chique (pelo que ouço diariamente numa secretária ao lado). Uma camada. Duas camadas. E agora as pestanas de baixo que o olhar quer-se carregado de negro e as pestanas lanzudas como as bonecas que se alinham nas prateleiras do Continente. E por fim o gloss (sim, já não se usa bâton). A viagem entre a estação inicial e a estação de chegada, para ambas, demora 20 minutos. A miúda, perdão, a rapariga já para cima dos 30, arrumou os sacos, ajeitou a saia e o penteado e colocou-se ao meu lado. E eu pensei "que pena, não ficou  bonita!".  E então senti-me bem na minha cara lavada, nas minhas unhas curtas sem verniz, por não ser, por não querer ser, a "estranha" Barbie  que me fez partilhar um raro momento de intimidade que não desejava.

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